O ALJOG/UPF e a memória literária de Josué Guimarães

Em grande parte de suas criações ficcionais, o escritor sul-rio-grandense Josué Guimarães destaca-se por uma abordagem crítica com relação às injustiças e mazelas de determinada sociedade, especialmente ao retratar seus intensos conflitos políticos e sociais. Ao longo de 2021, ano de seu centenário de nascimento, Josué vem sendo lembrado pela Universidade de Passo Fundo em diversas atividades que contemplam sua vida e a obra.

Desse modo, é importante destacarmos um dos principais espaços dedicados a ele: o Acervo Literário Josué Guimarães (ALJOG), localizado na Universidade de Passo Fundo. Integram o projeto estudantes e pesquisadores da área de Letras, incumbidos de catalogar e organizar manuscritos originais e objetos pessoais do escritor gaúcho. Sobre o espaço e sua consequente relevância para o meio acadêmico e literário, a Revista Letrilhando conversou com o professor Miguel Rettenmaier, responsável pela coordenação do ALJOG junto à instituição, confira a entrevista:

Revista Letrilhando: O que é o ALJOG? E como ele surgiu?

Miguel Rettenmaier: O Acervo Literário de Josué Guimarães teve seu primeiro momento no grande movimento da PUCRS de organizar, nos anos 90, um centro de memória literária a partir da união de vários arquivos literários centralizados no nome de grandes escritores. Josué Guimarães, Reinaldo Moura, Mário Quintana eram alguns desses nomes, em acervos que se equipavam metodologicamente com as bases do trabalho pioneiro do ALEV, Acervo Literário de Erico Verissimo. Neste projeto, o nome de três grandes pesquisadoras deve ser sempre citado: Regina Zilberman, Maria da Glória Bordini e Maria Luiza Remédios.

Em 2007, por desejo dos herdeiros, o Acervo de Josué Guimarães veio para a UPF, devido a todo um histórico de relações do autor de Camilo Mortágua com a cidade de Passo Fundo e, principalmente, com as Jornadas Literárias, das quais foi o primeiro grande incentivador.

RL: De onde vêm os elementos que compõem o acervo do ALJOG? E quais são esses elementos?

MR: São mais de 8.000 itens, que agrupam objetos pessoais, originais, planos, manuscritos, correspondência, fotos, documentos, publicações na imprensa, livros de sua biblioteca pessoa, máquinas datilográficas etc. Foram destinados a UPF, ao PPGL e ao curso de Letras pelos herdeiros, embora esse seja o primeiro passo. Em um acervo literário, tudo que cerca o nome do autor é coletado, classificado e acondicionado. A todo momento surgem uma nova demanda de ingresso de item, uma nova matéria, uma notícia. Um acervo não é um espólio de coisas que fazem parte de um passado, mas um complexo de elementos complementar em diálogo em relação. É um universo aberto e em transformação constante.

RL: Quem trabalha no espaço do acervo?

MR: O ALJOG/UPF tem como integrantes bolsistas alunos da graduação em Letras e do PPGL. Isso não significa que apenas alunos das Letras podem atuar como acervistas. Um acervo é por essência transdisciplinar.

RL: Onde o acervo do ALJOG está localizado? Sua visitação é aberta ao público? Existem momentos específicos para isso?

MR: O ALJOG/UPF se encontra na Biblioteca Central da UPF. A visita de qualquer interessado deve ser agendada, embora quando há acervistas, o espaço seja aberto com vitrines de exposição de alguns materiais. O agendamento pode ser feito no e-mail do coordenador (miguel@upf.br).

RL: Ao visitarem o acervo, o que os visitantes irão encontrar nesse espaço?

MR: O espaço do ALJOG/UPF está dividido em dois ambientes: de pesquisa e de visitação. Na parte da pesquisa estão os itens catalogados e acondicionados, além de todos os equipamentos de higienização, informatização e digitalização do acervo. Na parte aberta ao público enquanto os bolsistas trabalham, há banners e vitrines com itens do acervo, como os óculos do autor e uma de suas máquinas datilográficas, bem como alguns originais e documentos de sua vida profissional. Há também um “Josué” em tamanho natural, disposto para quem quiser tirar fotos com o autor.

RL: O ALJOG busca dialogar com os demais espaços da academia, como o Curso de Letras e o Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo? Quais atividades/ações promovidas pelo acervo auxiliam na popularização de seu conteúdo?

MR: O Acervo de Josué Guimarães é espaço de pesquisa de alunos de graduação e pós-graduação. Temos estudos sobre a correspondência do autor e sobre sua publicação na imprensa, além de trabalhos com a utilização de plataformas digitais de pesquisa em acervo. É constante, também, a pesquisa genética, a partir dos manuscritos e planos de trabalho do autor. Há, por outro lado, estudos paralelos, que utilizam as bases conceituais do que se faz no ALJOG para trabalhar com outros autores.

RL: Os interessados podem acompanhar o ALJOG e suas ações também por meio de alguma mídia social?

MR: O ALJOG/UPF tem site (https://www.upf.br/aljog/) e página do Facebook.


Texto e entrevista por Edemilson Antônio Brambilla, mestrando do Programa de Pós Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo

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